Os edulcorantes e o seu impacto na nossa saúde

Fonte: Nutriactis/Hospital Universitário de Rouen-Normandie

  • O que são edulcorantes ?
  • Os diferentes tipos de edulcorantes
  • Como identificar os edulcorantes nos produtos alimentares ?
  • Efeitos dos edulcorantes na saúde
  • Conclusão

O que são edulcorantes ?

Um edulcorante é qualquer substância que confere um sabor doce. Atualmente, o termo edulcorante restringe-se frequentemente a substâncias que conferem um sabor doce e poucas ou nenhumas calorias.

Os edulcorantes são aditivos alimentares e podem ser sintetizados quimicamente ou a partir de extratos de plantas (estévia, etc.).

Desde o seu aparecimento em 1800, os edulcorantes têm sido cada vez mais utilizados. São mais frequentemente utilizados como alternativa ao açúcar. O consumo de produtos com edulcorantes está a aumentar, sobretudo porque estes reduzem o teor de açúcar adicionado e as calorias, mantendo o sabor doce dos produtos.

Os edulcorantes estão presentes em muitos produtos processados como os alimentos «magros» (compotas, bolos, iogurtes, gelados, etc.), as bebidas «light», os doces, as pastilhas elásticas e outros. Podem igualmente ser apresentados sob a forma de «edulcorante de mesa» (pó, comprimidos, pastilhas, etc.). No total, mais de 23 000 produtos em todo o mundo contêm edulcorantes.

Os edulcorantes têm um poder adoçante significativamente superior ao da sacarose, que é a molécula que constitui o açúcar de mesa. Por exemplo, o aspartame é 200 vezes mais doce do que o açúcar: uma quantidade muito mais pequena de aspartame oferece um sabor comparável. Tal como acontece com todos os aditivos, os edulcorantes artificiais devem ser avaliados e validados pela EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos) antes de poderem ser utilizados em produtos alimentares na União Europeia. Um número de identificação que começa com a letra E é atribuído a estes aditivos alimentares, o que permite identificá-los facilmente.

Os diferentes tipos de edulcorantes:

  • Edulcorantes naturais (sacarose (açúcar de mesa), glucose, frutose, etc.): são derivados de fontes naturais, como a sacarose da cana-de-açúcar ou da beterraba, ou a frutose da fruta.
  •  Edulcorantes nutritivos (polióis: isomalte, sorbitol, manitol…): o seu poder adoçante é bastante próximo daquele do açúcar de mesa (0,5 a 1,4) e são utilizados em muitas pastilhas elásticas e doçarias…
  •  Edulcorantes intensos(sacarina, cilamato, aspartame, sucralose, acessulfame, etc.): o seu poder adoçante é superior ao dos outros edulcorantes (nutritivos e naturais).
Número EEdulcorantesPoder adoçante *DDA**
E951Aspartame20040
E955Sucralose500-60015
E960Glicosídeos de esteviol (de estévia)250-4504
E950Acessulfame de potássio (Acessulfame-K)100-20015
E952Ácido ciclâmico e respetivos sais30-407
E959Neohesperidina dihidrochalcona400-6005
E961Neotame7000-130002
E954SaccharineSacarina e respetivos sais300-4005
E962Sel dSal de aspartame-acessulfame350não especificada
E957Taumatina2000-3000não especificada
E968Eritritol0,6-0,8não especificada
E965Maltitol0,75-0,9não especificada
E420Sorbitol0,5-0,6nnão especificada
E967Xilitol1nonnão especificada
*em relação à sacarose: intensidade do sabor doce sentido em comparação com o açúcar: por exemplo, para a mesma quantidade, o aspartame tem 200 vezes mais sabor doce do que o açúcar.
** DDA (Dose Diária Admissível)** (mg/kg de peso corporal): a quantidade máxima de edulcorante, definida pela EFSA, que pode ser consumida diariamente.

De acordo com os regulamentos da EFSA, os edulcorantes e a sua função devem ser incluídos na lista de ingredientes de cada produto. Deve então ler atentamente os rótulos para identificar a presença de edulcorantes nos produtos que compra ou consome.

INGREDIENTES:

  • Água, Dextrose, Menos de 2% de Ácido Cítrico, Citrato de Potássio, Sal, Citrato de Sódio, Aromatizante Artificial, Sucralose, Acessulfame de Potássio, Gluconato de Zinco e Vermelho 40.

Efeitos dos edulcorantes na saúde

Apesar de muitas autoridades nacionais e internacionais reconhecerem os edulcorantes como sendo seguros e bem tolerados, a segurança destes aditivos é atualmente objeto de debate. Alguns edulcorantes estão atualmente a ser reavaliados por várias autoridades de saúde, e alguns estudos científicos recentes destacaram os seus potenciais riscos para a saúde.

De um modo geral, a quantidade de edulcorantes consumida fornece poucas ou nenhumas calorias, razão pela qual são frequentemente considerados como promotores da perda de peso através da redução da ingestão de energia. No entanto, os estudos não apresentam resultados conclusivos do consumo de edulcorantes na perda de peso e no IMC (índice de massa corporal). Pelo contrário, os estudos demonstraram uma correlação entre o consumo de edulcorantes e um risco acrescido de obesidade (cf. parágrafo sobre o comportamento alimentar).

De acordo com estudos científicos recentes, os edulcorantes não reduzem o risco de diabetes de tipo 2; pelo contrário, um maior consumo de edulcorantes tem sido associado a um maior risco de desenvolver resistência à insulina e diabetes de tipo 2.

O consumo elevado de bebidas com edulcorantes (> 1 bebida por dia) está associado a um aumento de 32 % no risco de eventos cardiovasculares,de 19 % no risco de todos os tipos de AVC (acidente vascular cerebral) e de 13% no risco de hipertensão. Além disso, o consumo de produtos alimentares (edulcorantes de mesa, sobremesas com baixo teor de gordura, etc.) que contêm edulcorantes (eritritol) aumenta o risco de eventos cardiovasculares.

O consumo de edulcorantes como a sacarina, a sucralose e o aspartame pode perturbar a composição da microbiota intestinal e provocar uma disbiose (para saber mais sobre a microbiota e a disbiose: Efetivamente, existem alterações na diversidade bacteriana da microbiota e perturbações da barreira intestinal (↑ permeabilidade) associadas ao consumo de edulcorantes (aspartame, acessulfame-K).

Vários estudos demonstraram que o consumo de acessulfame-K aumenta as populações bacterianas de Firmicutes e reduz a bactéria Akkermansia muciniphila, que são alterações também observadas na obesidade. Os glicosídeos de esteviol e outros edulcorantes poderiam interagir diretamente com a microbiota intestinal, modificando assim a população bacteriana e as suas funções.

O consumo de edulcorantes pode estar associado a uma redução significativa da saciedade e da saciação, bem como a um aumento do apetite e da vontade de comer. O consumo repetido de edulcorantes pode, por conseguinte, levar a uma perturbação das sensações alimentares (fome, saciedade, etc.), mas também do prazer de comer.
Além disso, os edulcorantes proporcionam geralmente menos prazer do que o açúcar e, por conseguinte, menos satisfação após o seu consumo, o que pode incentivar o consumo excessivo, conduzindo a um risco de aumento de peso, doenças crónicas e distúrbios alimentares.

Um estudo comparativo de consumidores e não consumidores de bebidas com edulcorantes concluiu que os grandes consumidores apresentavam maiores preocupações com o corpo e sentimentos de culpa relacionados com o facto de comerem em excesso.

Numerosos estudos evidenciaram as dificuldades de tolerância associadas a certos aditivos alimentares. Consumidos em doses elevadas, certos edulcorantes, como os polióis, podem induzir sintomas gastrointestinais como flatulência, inchaço, desconforto abdominal e um efeito laxante.

  • Um estudo observacional que incluiu 102 865 adultos da coorte francesa NutriNet-Santé demonstrou uma associação entre o consumo de edulcorantes e o risco de desenvolver cancro. Efetivamente, os maiores consumidores de edulcorantes tinham um risco mais elevado de cancro do que os não consumidores. O aspartame e o acessulfame-K são os edulcorantes com maior risco de cancro.
  • Um estudo com um acompanhamento de 6 anos não revelou qualquer diferença significativa no declínio da função cognitiva em participantes com mais de 55 anos que consumiam bebidas com edulcorantes mais do que uma vez por mês. No entanto, num outro estudo, com um acompanhamento de 10 anos, o risco de desenvolver demência ou doença de Alzheimer aumentou nos adultos com mais de 60 anos que consumiam diariamente bebidas com edulcorantes, em comparação com os que não consumiam.

Conclusão

  • São essenciais mais estudos para confirmar os riscos para a saúde associados ao consumo de edulcorantes e para explicar os mecanismos de ação. No entanto, estudos recentes destacam cada vez mais sinais de alerta sobre os riscos resultantes do consumo de edulcorantes. Além disso, não existem provas de qualquer benefício (perda de peso, risco de diabetes, etc.) do consumo de edulcorantes.
  • → Por conseguinte, o ideal é limitar ao máximo o consumo de edulcorantes, bem como de produtos ultraprocessados.